sábado, 23 de outubro de 2021

A Casa Herdada

Quando o telegrama chegou, fiquei muito confuso, telegrama é uma coisa muito antiga e pouco usada, quem me mandaria um telegrama? Abri e li aquelas poucas palavras que dizia: “comparecer ao cartório de registro de imóveis amanhã as 8 horas da manhã com urgência”. Não sei o que pensei na hora, continuei a ler o endereço, confirmei que era mesmo um Cartório de Imóveis, e joguei o telegrama sobre a cômoda. No dia seguinte levantei cedo, peguei o telegrama, avisei minha esposa e sai para o Cartório. Chegando lá, havia um homem de meia idade na porta, ao me ver ele sorriu, veio ao meu encontro e se apresentou dizendo que representava um escritório de advocacia, que estava me aguardando para ler o testamento. Não sei se fiquei momentaneamente surdo, louco ou deixei de entender o português, testamento? Que testamento? Quem morreu? Ele estava falando com a pessoa certa? Creio que ele percebeu minha confusão quando ele disse: - Venha Paulo, entre que vou te explicar. Lentamente fui entrando acompanhando aquele homem, como ele sabia meu nome? Eu tinha muitas dúvidas sobre o que eu fazia ali, quem havia morrido? Entramos em uma sala com uma enorme mesa, várias cadeiras vazias, mas uma delas estava ocupada por um senhor de idade avançada, ele sorriu e me mandou sentar, em sua frente havia um envelope de onde ele tirou um papel velho e começou a ler, demorou um tempo até que eu conseguisse entender o que ele estava lendo, era um testamento de um senhor chamado Bartolomeu, durante uns minutos, enquanto aquele senhor lia, eu pensava quem seria Bartolomeu, até que o homem do cartório me disse que o advogado me explicaria os detalhes, pelo pouco que entendi, este falecido era um parente distante da minha falecida mãe, e eu era seu único herdeiro, me deixou um pouco de dinheiro e uma casa de campo com um terreno muito grande, que já estava na família a anos e eu não poderia me desfazer dela pelos próximos 15 anos.

Aquela manhã foi mesmo conturbada, depois da leitura do testamento o advogado que este meu parente desconhecido contratou, me explicou tudo, Bartolomeu era um tio de minha mãe, que havia se afastado da família a muitos anos, e se isolado em uma casa de campo, após anos vivendo sozinho ele deixou tudo que tinha para minha mãe, que já estava falecida, portanto tudo era meu, uma pequena quantia em dinheiro e esta casa, pelo jeito era uma casa grande, com um terreno enorme e bem isolada, assinei papeis, entreguei copias de documentos pessoais, registramos documentos naquele cartório, e resolvemos as burocracias, muitos documentos só ficariam prontos dias depois, mas no final daquela manhã, o advogado me entregou um molho de velhas chaves, um documento de posse provisória da casa e um mapa de como chegar a casa. Tudo estava muito confuso em minha cabeça quando cheguei em casa naquela tarde, minha esposa Priscila estava ansiosa para saber o que houve, e aos poucos fui explicando, ela parecia tão confusa quanto eu, não conheci muitos parentes, sou filho único e minha mãe nunca falava muito da família dela, então decidimos que no próximo final de semana iriamos conhecer aquela casa de campo que herdei.

No sábado, por volta das 6 horas da manhã, já com as malas arrumadas e colocadas no carro, partimos para um fim de semana na nova casa, pelo que o mapa indicava era quase na divisa do estado, então teríamos algumas horas de estrada, rumamos com destino ao interior, estava um dia lindo e ensolarado, fizemos uma parada para tomar um delicioso café da manhã, e continuamos, cerca de 3 horas depois, seguindo a indicação do mapa, saímos da rodovia e pegamos uma pequena estrada urbana, a distância entre uma casa e outra era longa, mas 10 quilômetros depois entramos em uma rua de  terra, nos esforçávamos o máximo para seguir o mapa, pois percebemos que não havia nenhuma residência no caminho para nos socorrer caso nos perdêssemos, para piorar o tempo começou a mudar, um vendo gelado e um chuvisco fino nos envolveu, a mata em nossa volta ficava mais densa, nos perder seria difícil, pois haviam poucas bifurcações no caminho e o mapa era bem claro qual caminho pegar, a visibilidade estava prejudicada, mas durante o caminho pude ver um velho senhor capinando um terreno a beira da estrada, ele parou da capinar e ficou nos observando passar, acho que foi a primeira pessoa que vi depois de pegarmos esta estrada de terra pensei. Por ser uma estrada bem acidentada, não conseguia ir mais rápido que 20 quilômetros por hora, e chacoalhávamos muito, a estrada já estava bem estreita quando próximo ao carro vindo pela estrada em nossa direção uma senhora caminhava com uma trouxa de roupas em sua mão, ela nos deu sinal e eu parei o carro:

-Bom dia Senhora, tudo bem? Cumprimentei-a

- Vocês não estão a caminho da Mansão Zelofeade? Muito cuidado naquele lugar, ele ainda habita aquela casa. Disse aquela senhora com um ar sombrio, e antes que falássemos alguma coisa ela se afastou apressadamente, Priscila e eu nos olhamos sem falar nada e quando olhei no retrovisor, ainda parado naquele local, não mais avistei aquela senhora, juntos minha esposa e eu olhamos para traz, e não vimos mais aquela senhora, foi muito estranho, mas continuamos nosso caminho sem falarmos sobre o ocorrido, algum tempo depois a estrada se abriu um pouco e a nossa frente avistamos uma enorme casa.

Um enorme portão de ferro fundido em sua frente, deixava a entrada muito imponente, peguei o molho de chaves e desci do carro, o vento era muito gélido e a garoa não ajudava, agora ainda avia uma neblina que não nos deixava ver direito casa, demorei alguns minutos mas consegui abrir o portão, Priscila assumindo o volante adentrou com o carro, fechei o portão e me juntei a ela para pegar as malas, porém, paramos para vislumbrar aquela enorme casa, muitas janelas, torres, com aparência de castelo, uma entrada imponente, o que mais assustava era a aparência de abandonada, o tempo todo me vinha na cabeça que uma reforma seria caríssima, fora o trabalho para cortar todo aquele mato, pela primeira vez me ocorreu que eu não sabia nada sobre meu tio avo Bartolomeu, nem mesmo quando ele faleceu, o que pela aparência da casa, parecia ter sido a muito tempo, subimos uns degraus de pedra e chegamos a porta, testei várias chaves, até que uma se encaixou, foi um pouco difícil gira-la, mas consegui, empurrar a porta foi outro trabalho que só conseguimos juntos, com um rangido de ferrugem sendo forçado a porta se abriu, uma sala enorme estava agora a nossa vista, moveis cobertos com velhos lençóis, chão empoeirado, quadros antigos em todas as paredes, portas que levavam a outros cômodos nos cantos da sala e no fundo ao cento uma enormes escada que levava ao andar superior e um velho homem parado no centro da escada. Deu um salto, e disse: - quem é você? Priscila agarrou meu braço e disse: - com quem está falando amor? Olhei para ela incrédulo que ela não estava vendo aquele homem, era um senhor aparentando uns 70 anos, com um terno preto, uma cartola e apoiado em uma bengala, apontei para a escada e disse: -Com ele é claro! Mas, quando me virei para onde meu dedo apontava, só estava a escada vazia, minha esposa ficou brava e me disse para parar de tentar assusta-la, pois, aquela casa já era suficientemente assustadora. Não sei explicar, eu jurava ter visto alguém ali, ou teria sido fruto da minha imaginação? Enfim, deixamos as malas ali a juntos fomos explorar a casa, na porta do lado esquerdo da sala, levava a uma cozinha ampla e com muitos armários, pia grande e um fogão a gás, antigo, mas bem conservado no centro do cômodo, uma porta no canto que levava a uma lavanderia e ao quintal dos fundos. A porta do lado direito da sala levava a uma grande e aconchegante sala de jantar, com uma mesa em madeira bem lustrada com 12 lugares, acesso a uma biblioteca e a um escritório bem iluminado, em todas as paredes quadros de paisagens e um ou outro quadro de alguma pessoa com roupa da década de 40 ou 50, a biblioteca era apinhada de livros, grandes e com aparência de antigos. Na grande sala central ainda existiam portas que ocultavam banheiro para visitas, que não tirariam a privacidade do andar superior e um corredor próximo a escada que levava a dois quartos de visitas. Subimos a escada para conhecer o andar superior, dois longos corredores com diversas portas, em sua maioria quartos, dos quais haviam suítes e quartos simples, no fim de cada corredor grandes banheiros e uma escada de madeira que levava ao sótão. Era uma casa muito grande e luxuosa para ser de campo, ou para ter apenas um só morador, aquela casa pelo tamanho deveria ter no mínimo uns cinco funcionários para mantê-la limpa e organizada, cansados da viagem resolvemos tomar um banho, pegamos nossas coisas e escolhemos o maior quarto para ficarmos, era uma suíte linda, com uma cama de casal enorme e em seu banheiro havia uma imensa banheira, Priscila logo quis aproveitar, demos uma rápida limpada neste banheiro e enquanto eu desci para procurar algum produto para limpar o quarto ela ficou aproveitando a banheira. Na área de serviço abri diversos armários, achei vassoura, rodo, panos e produtos, mas nada de aspirador de pó, o que logo percebi é que não há nesta casa nenhum produto eletrônico exceto uma velha geladeira, nem televisão havia na casa, ainda na área de serviço eu observava o mato grande ao redor da casa pensando quando teria sido limpo pela última vez aquele quintal, me lembrei do senhor capinando o terreno na estrada e que eu poderia contrata-lo para limpar o terreno da casa, ainda não havia explorado ao redor da casa, não sabia sua extensão, mas não conseguia ver o final dos muros com este mato alto e a neblina, sentia um frio que não pensei que faria naquele fim de semana e resolvi voltar para o quarto e tomar um banho. Quando retornei para o quarto, Priscila estava com a minha toalha enrolada ao corpo e a dela enrolada na cabeça para secar os cabelos, ela sempre foi uma mulher deslumbrante, sua beleza era notada em todo lugar por onde ela passava, ela olhou para mim e disse:

- Cadê a calça que pedi parra você pegar no carro amor?

-Pediu? Não me lembro de ter pedido isso. Respondi intrigado

- Na hora que você me entregou a toalha para eu tirar o sabão que havia entrado nos olhos, não se faça de bobo. Ela disse sorrindo.

- Mas amor, eu não te passei a toalha, sai do quarto antes de você entrar no banho e só voltei agora com estas coisas. Respondi mostrando os objetos de limpeza que estavam em minha mão.

Se vestindo com as roupas que estavam na mala no quarto, ela me olhou e disse, que ela mesmo pegaria a calça e que era a última vez que ela falava para eu parar com estas gracinhas. Mas eu não estava com gracinha, depois que eu tomei um banho rápido, falei para ela dá ideia de chamar aquele senhor para capinar o quintal, e que teríamos que ir até a cidade comer algo, então fomos de carro até a cidade, pelo caminho falávamos de como a casa era grande, de que seria legal vende-la, mas era uma pena ter uma clausula de não poder vender em menos de 15 anos, atentos por onde passávamos, não avistamos o velho que capinava, provavelmente por causa do frio que estava fazendo ele não estava mais ali, estranhamente, ao chegar na pequena estrada asfaltada o tempo se abriu, um lindo sol e um dia quente se mostrou novamente para nós, e ficamos muito felizes por ter melhorado, em pouco tempo achamos a beira da estrada um pequeno restaurante, muito aconchegante com uma placa que dizia “ Comida Caseira da Dona Tere” entramos, uma senhora muito simpática veio nos atender, se apresentou, era a dona do restaurante, Terezinha era seu nome, nos ofereceu o especial do dia que era um delicioso arroz com feijão na panela de barro, com filé de frango à milanesa, salada de folhas de alface, e nos deu de cortesia um delicioso suco de limão, muito refrescante, a comida estava deliciosa, muito bem temperada, foi uma delícia almoçar ali,  como era um pouco distante da casa, resolvemos comprar coisas para fazer um lanche a noite, quando fomos pagar aquela simpática senhora ainda nos deu um pequeno desconto, conversando resolvi perguntar se ela conhecia alguém que faria serviços gerais na casa, ela falou que conhecia alguns moradores da região e que fariam bons preços, e perguntou:

- Então vocês compraram uma casa em nossa região? Vão morar ou será para descanso?

- Na verdade recebi de herança de um tio avô que não conheci, ele faleceu e deixou para mim. Respondi sorrindo

- Que triste, mas não me lembro de nenhuma morte por aqui nos últimos tempos, quem era seu tio avô? Perguntou ela

- Bartolomeu, Bartolomeu Brown, morava na Mansão Zelofeade. Mas parei de falar ao ver a expressão no rosto daquela senhora.

- Não mora ninguém naquela casa a anos, Bartolomeu morreu nos anos 70 e ninguém mais morou naquela casa, tem certeza de que está falando realmente da casa de Bartolomeu Brown? Perguntou ela com uma expressão estranha no rosto – Dificilmente você encontrará alguém que queira trabalhar nela - completou

Não sabia bem o que pensar ou responder, o que haveria em uma casa que assustaria as pessoas? Agora sabia que este meu tio avô já havia falecido a nos, mas porque só agora revelariam este testamento? Intrigados com algumas questões, minha esposa e eu entramos no carro e pegamos o caminho de volta a casa, poucos falamos sobre o que ouvimos da dona do restaurante, mas concordamos que ela pareceu ter medo da casa e que talvez esta seria a única noite que passaríamos nela. Começamos e ficar intrigados também o tempo ao pegarmos a estrada de terra de volta para a casa, novamente o tempo fechou, muito frio, uma garoa fina e muita neblina, olhamos um para o outro e não falamos nada, mas no olhar entendi que ela estava confusa com aquele tempo tão diferente, e eu também estava, poucos metros depois de pegarmos a estradinha de terra avistei aquele homem que capinava, ele ainda estava capinando um terreno a beira da estrada, estranhamente me pareceu que ele estava no mesmo ponto onde o encontramos pela manhã, mas o terreno não estava capinado, parecia que ele estava começando a capinar, novamente ao nos ver o homem parou de capinar e ficou nos observando, parei o carro ao lado do terreno e baixei o vidro, o frio era estremo, o homem de macacão antigo apoiou-se no cabo da enxada e ficou me observando.

- Boa Tarde Senhor – cumprimentei e ele só acenou com a cabeça – Sou o herdeiro da Mansão Zelofeade, preciso de alguém para capinar e limpar o terreno dela, o senhor tem interesse? – Perguntei.

Ele me olhou fixamente, mau pude ouvir seu sussurro que dizia: - Começarei amanhã a limpar o terreno senhor. – ele se virou pegou sua enxada e entrou no terreno que limpava e sumiu no mato.

- Homem estranho esse – comentou Priscila e eu concordei com a cabeça.

Mas o importante era que conseguimos alguém para limar o terreno, não combinamos nada, mas no dia seguinte pela manhã falaríamos sobre pagamento, pelo tamanho do terreno, ele levaria vários dias para limpar. Continuamos nosso e antes de chegar a casa vimos uma senhora, a mesma senhora que vimos mais cedo, com a mesma roupa, a mesma trouxa de roupa nas mãos, nos deu sinal novamente para parar, abri a janela e ela disse: - Vocês não estão a caminho da Mansão Zelofeade? Muito cuidado naquele lugar, ele ainda habita aquela casa.

- Quem habita a casa? Do que a senhora está falando? Quem é você? Para onde você está indo? - Eu perguntava, mas ela já continuava a caminhar sem falar mais nada e ignorando as minhas perguntas.

Ao chegar na casa percebemos diversas lamparinas acesas, mas não havíamos acendido nada, será que alguém entrou na casa? Claro que já estávamos ficando assustado com estes acontecimentos, peguei a chave de roda no carro, e lentamente fomos entrando, a porta pareceu mais fácil de abrir, empurrei lentamente, uma senhora acabara de entrar para a cozinha, suas vestes pareciam de uma antiga empregada, o lustre da sala estava aceso e deixava tudo bem iluminado, olhando para a porta que dava para a cozinha chamei: - Senhora? Senhora? Senhora? – Mas não ouve resposta, com minha esposa agarrada em minhas vestes, caminhei lentamente e muito atento em direção a cozinha e chamei novamente: - Senhora? Senhora? Senhora? A alguém aí na cozinha? – Ninguém respondeu, entramos na cozinha e não havia ninguém, saímos pela porta da área de serviço, o tudo estava vazio, demos a volta na casa e entramos novamente pela porta da frente, não encontramos ninguém, o lustre estava apagado, a sala mal iluminada, procuramos um interruptor, ou onde acender o lustre, mas não achamos, subimos a escada, e eu ainda estava com a chave de rodas na mão, olhamos quarto por quarto, até chegarmos no que deixamos nossas malas, não encontramos nada nem ninguém na casa, aquela senhora havia desaparecido completamente e misteriosamente, decidimos descer e trancar a saída de serviço,  e limpar o quarto que passaríamos a noite, combinamos que depois de conversar com o senhor que limparia o terreno iriamos embora e só voltaríamos no outro fim de semana, com tudo mais tranquilo. Após limparmos o quarto e já cansados, resolvemos nos deitar e descansar um pouco, a cama era enorme e muito aconchegante, apesar de aparentar muito velha o colchão ainda estava em muito bom estado de conservação, deitamos abraçados e logo adormecemos, meu sono foi muito perturbado, não sei explicar bem, mas tive sonhos estranhos com aquelas pessoas que estavam nos quadros, com pessoas andando pela mansão o tempo todo, mas o mais estranho foi sonhar com o Senhor de Cartola e Bengala, entrando lentamente no quarto, ele nos observava dormir, lentamente ele se aproximou da cama, sentou-se à beira da cama em frente a Priscila e com sua mão pálida acariciou seu rosto, mesmo dormindo pude sentir o peso de alguém sentando-se na cama, mas o que me acordou foi o grito de minha esposa, ela levantou-se de um salto, me empurrando e chorando, estava muito nervosa e eu não entendia o que estava acontecendo, abracei ela e perguntei o que estava acontecendo: - Um Homem, velho, de Cartola na cabeça, sentou-se ao meu lado e me acariciou o rosto, sua mão era fria como gelo, ele sussurrou algo que não entendi, tinha um homem aqui, eu sei que tinha. – Dizia ela aos prantos e muito nervosa.

Eu estava perplexo, aquilo era um sonho, ou realmente aconteceu? Mas como poderia ela e eu termos o mesmo sonho, ainda abraçando minha esposa notei que já havia anoitecido, procurei o interruptor do quarto com a lanterna do celular, e ao encontrar, ele não funcionou para acender as luzes, a casa estava muito escura, Priscila dizia que queria ir embora, mas naquela escuridão era melhor esperar o dia clarear, expliquei para ela que seria melhor, e que o Capinador viria de manhã para negociarmos, mas você sabe o que é pior do que estar em um local estranho? É estar em um local ensurdecedoramente silencioso. Tranquei a porta do quarto para dormirmos, deixei a chave de rodas perto de mim, mas quem disse que conseguia dormir, ouvia barulho de panelas, ouvia passos, ouvia vozes, e quando perguntava para minha esposa se ela ouviu algo ela dizia que não, quando ela me dizia ter escutado e não escutava, , duas ou três vezes fui até a porta e a abri ao ouvir passos no corredor, mas não havia nada, decidi fingir para ela que eu não estava escutando nada, não conseguimos dormir, não pregamos os olhos um minutos se quer, ficamos abraçados, ela estava muito assustada, confesso que eu também estava com medo, mas não queria demonstrar, a noite foi muito, muito longa, cada musculo do meu corpo doía e meu cérebro estava muito alerta, lentamente o quarto foi se iluminando com a claridade do dia, levantamos e nos aprontamos para sair do quarto.

Ao abrir a porta do quarto, levamos um susto, por casa dos barulhos que ouvimos a noite toda eu estava com a chave de rodas na mão, não sabia o que esperar, mas sabia que aquilo eu jamais esperaria, o corredor estava bem iluminado, e totalmente limpo, não existia mais nenhum pó naquele corredor, cortinas limpas e bem colocadas, os quadros limpos e no lugar, fomos andando lentamente em direção as escadas, estava limpa e com o corrimão bem lustrada, enquanto estávamos descendo, duas senhoras bem limpas e com roupas de serviçais dos anos 60 passaram pela sala principal sem olhar para nós, a sala estava bem iluminada, o sol começou a entrar pelas janelas e um homem bem arrumado com um terno tipo pinguim, gravata borboleta e luvas brancas nos olhava aos pés da escada, sorriu e disse: - Bom dia senhor e Senhora, seu café esta servido. -  ele apontou para a sala ao lado, uma jovem senhora abriu as portas de uma sala bem iluminada, colorida e muito limpa, no centro uma mesa, nela posta o café da manhã com muitas frutas, sucos, um bule de chá e um de café, alguns tipos de pães, e bolachas amanteigadas que cheiravam deliciosamente, sentamos a mesa, e olhando para aquele homem bem vestido perguntei: - Quem é você?

- Sou Jaime, senhor, seu criado. - Respondeu ele fazendo uma reverência e indicando que sentássemos. - Seu café esta servido. – Completou.

Sentamos a mesa, tudo que gostávamos estava posto a mesa, Jaime cochichava ordens aos criados e eles atendiam, mas de onde apareceram estes criados? Será que estava descrito em alguma parte do testamento? Como eu pagaria tantos funcionários? Será que meu tio avô me deixou dinheiro suficiente? Enquanto comíamos, estas questões não saiam de minha cabeça, terminamos de comer e saímos da mesa, fomos em direção a grande sala quando Jaime nos abordou: - Senhores, no almoço será servido peixe e cordeiro existe algo que deseja pedir?

- Não Jaime, apenas precisaremos entender algumas coisas com o advogado – respondi pensando em como pagaria tudo aquilo – vem um senhor para negociar a limpeza do quintal agora de manhã, me chame quando ele chegar. – Completei.

- Não será necessário senhor, nosso jardineiro já cuidou de tudo – respondeu ele prontamente.

Realmente, ao sair para o quintal notamos que tudo estava em perfeita ordem, o gramado estava lindo, flores lindas e coloridas, as gradas e o muro estavam pintados e o portão até brilhava de tão lindo, ao longe, no fundo do quintal, avistei aquele velho carpinteiro, usava o mesmo macacão, porém, estava muito limpo, parou de varrer, nos observou e sorriu, eu estava  perplexo, então todo aquele barulho a noite era os criados do meu tio avô cuidando da casa, mas como era possível eles terem feito tanta coisa em tão pouco tempo? Enquanto eu me questionava, Priscila passeava pelo jardim, ela sempre foi apaixonada por flores, e realmente estava magnifico, aproveitamos aquela manhã ensolarada no jardim, realmente o dia estava lindo. Após um delicioso almoço, aprontamos as malas e avisei a Jaime que iriamos voltar apenas no próximo final de semana, ele se prontificou e disse que cuidaria da casa, ao descermos as escadas avistei um homem de meia idade e bem vestido, estava de terno bem alinhado e usava uma bengala para se apoiar, ele falava com uma senhora, eu a reconheci, era a mesma senhora que vimos duas vezes na estrada, ele não notou minha presença, mas percebi que ele estava muito bravo com aquela senhora, não compreendi muito o que ele falava, mas pelo seu tom e pela expressão de medo no rosto dela, ele estava brigando com ela, me afastei e pedi a Jaime que intervisse e sessasse aquela bronca, ele me olhou um tanto assustado, e só acenou com a cabeça, entrei no carro, Priscila já me esperava, nos olhamos e sorrimos, como era incrível ter recebido tudo aquilo em herança, pegamos a estradinha de terra, e logo chegamos na estradinha asfaltada, quando avistamos o restaurante do dia anterior minha esposa pediu que eu parasse para comprar algo para beber durante a viagem de volta, descemos do carro e entramos no restaurante. Dona Tere ao nos ver sorriu e disse: - Queria mesmo ver vocês, consegui uma pessoa para limpar seu quintal, mas não será barato – disse ela sorrindo.

-Não será mais necessário, já está tudo limpo e arrumado, Jaime tomou conta de tudo – Respondi

- Jaime? O Mordomo? – Quem te falou de Jaime? – Perguntou ela com um ar sombrio.

- Ora, ninguém me falou dele, falei com ele assim que acordamos, ele e vários serviçais estavam na casa, prepararam nosso café, limparam a casa e o quintal, pessoas muito boas que trabalham lá – informei a ela, agora olhando há fixamente pois havia em seu rosto uma expressão assustada.

- Senhor, me ouça, quem quer que o senhor tenha visto, não pode ser o Jaime, acho que o senhor não sabe o que houve naquela casa, a muitos, muitos anos atrás, o Senhor Bartolomeu Brown comprou estas terras, nelas haviam apenas uma pequena igreja, uma pequena cabana e um cemitério indígena, haviam boatos que muitos rituais eram feitos naquelas terras antes do senhor Brown compra-las, ele foi alertado pelo último guardião das terras o Xamã, Apoema que significa “aquele que vê mais longe”,  que seria um grande erro se ele construísse qualquer coisa sobre as terras sagradas, mas ele ignorou o aviso. Pouco tempo depois muitos operários, muito material de construção e muitas maquinas ocupavam o terreno, houve muitos acidentes, andaimes que caíram com operários, muros derrubados, muitos operários disseram que não voltariam porque eram terras amaldiçoadas, que viam os espíritos dos índios vagando por lá, foi uma construção difícil, aconteceram cinco mortes durante a construção, e muitos operários juravam ter vistos seus amigos mortos ainda exercendo suas funções durante a construção. Por fim, uma casa grande e imponente para uma casa de campo, mas logo o Senhor Brown veio morar com sua família, uma adorável esposa e seus dois filhos, todos bem vestidos e muito educados, muitos moradores da cidade foram chamados para trabalhar na casa, cozinheiras, governanta, arrumadeiras, jardineiro e Jaime o Mordomo. Em pouco tempo uma tragédia acometeu a família, uma doença inexplicável levou a morte os filhos do casal, o que deixou a esposa adoecida de tão triste e o Senhor Brown a beira da loucura, ela já não se levantava e falavam que ela não saia mais do quarto, o marido sentava-se ao lado dela na cama em cada refeição, mas ela não comia nada, durante oito meses após a morte dos filhos ela definhou e por fim faleceu, o Senhor Brown enlouqueceu por completo, trancou a mansão e assassinou um a um dos seus funcionários, começou pelas cozinheiras esfaqueando-as, cortando a garganta, liberou o gás do fogão, e circulou a casa, uma arrumadeira estava nos fundos esticando os lençóis no varal, ele a atacou com uma barra de ferro, sem lhe dar nem chance de reagir, entrou na casa e trancou a porta, subiu aos quartos e pegou uma arma, atirou na arrumadeira que saída de um dos quartos, Jaime o Mordomo estava na biblioteca e ouviu o barulho, saiu rápido para ver o que havia acontecido, e deparou com o Senhor Bartolomeu Brown no meio da escada, parado olhando fixamente para ele, sempre bem vestido, terno alinhado mas agora sujo de sangue, em uma das mãos uma bengala ao qual se apoiava, ele não tinha nenhum problema físico, mas sempre achou elegante usar a bengala, e na outra mão uma arma, ele atirou em Jaime antes que ele pudesse ter qualquer reação e depois atirou na própria cabeça, ali no meio da escada. Uma senhora que trabalhava na casa conseguiu escapar, dizem que saiu de lá tão perturbada que até hoje veem seu espirito vagando pela pequena estrada para avisar para as pessoas se afastarem de lá, e o jardineiro, um homem de meia idade muito simpático e prestativo que só escapou porque estava capinando o terreno distante da casa onde viviam uns animais. Por isso te disse que era impossível ter visto Jaime o Mordomo na casa, todos da cidade tem medo de chagar perto dela, quem conseguiu chegar perto dela disse que dá para escutar gritos e gemidos de dor, que a noite se ouve barulhos dos empregados trabalhando, mas ninguém, ninguém da cidade tem coragem de entrar nem na estrada de terra que leva a Mansão Zelofeade, você sabe o que significa este nome? – Perguntou ela olhando fixamente em meus olhos, fiz que não com a cabeça -  Falam-se de vários significados, mas um deles é “SOMBRA DO PAVOR”, por isso peço encarecidamente, fiquem longe daquela casa, não pode haver nada de bom em um lugar com tantas tragédias.

Aquela história que ouvimos era incrível, mas nada fazia sentido em minha cabeça, agradecemos Dona Tere por seus relatos e pelo tempo dedicado a nós, mas minha cabeça girava com tudo aquilo, Priscila estava atônica e dizia que nunca mais iria lá, eu disse que antes de irmos queria voltar e ver quem era aquele homem que se apresentou como Jaime, iria fingir não saber de nada, e depois chamaríamos a polícia para tirar aquelas pessoas da casa, voltei pela estrada, quando cheguei a estrada de terra novamente o tempo mudou, muito frio, neblina e aquela garoa fina, desta vez isso gelou minha alma, aquela história não saia a minha cabeça, logo avistei o homem que capinava, ele parou de capinar e nos olhou, não parei o carro, continuei sem olhar para ele, pouco a frente uma senhora caminhava com uma trouxa de roupa nas mãos, nos deu sinal para parar, mas a ignorei completamente e continuei rumo a casa, o portão estava trancado, desci do carro, olhando pela grade o terreno estava totalmente coberto por mato, como n momento que avistei a casa pela primeira vez, olhando para as janelas haviam pessoas pelo lado de dentro e dava para notar as cortinas rasgadas, grades enferrujadas e nenhuma flor no jardim, todas as pessoas eram transparentes e na porta principal estava meu tio avô, parado de pé com seu terno preto bem alinhado, porém, coberto de sangue, em uma das mãos a famosa bengala e na outra uma arma, se olhar era um misto de sofrimento e ameaça. Voltei para meu carro junto de minha esposa, sai o mais rápido que pude dali para nunca mais voltar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O Bar Macabro



Queria que alguém me ajudasse a explicar isso que aconteceu comigo, não sei como responder a pergunta da minha esposa, mesmo contando a verdade ela jamais acreditaria em mim, vou lhes contar o que aconteceu.

Meu amigo Felipe e eu, estávamos passando pelo Centro da cidade após sair do trabalho, avistamos um bar, resolvemos parar para beber algo, pois o dia avia sido cansativo e amanhã seria o sábado de descanso.  A noite já nos cobria com sua escuridão, a entrada do bar era pouco iluminada com adornos  que pareciam velas, após passar pelo corredor, chegamos a um salão amplo, iluminação a meia luz, mesas redondas, e uma decoração mórbida, logo olhamos um para o outro e Felipe disse, amanhã é Halloween, então entendemos que a de oração era pela data que se aproximava, uma garçonete, com a pele muito branca, cabelos e olhos negros e de Baton preto se aproximou, nos conduziu a uma mesa e perguntou se queríamos algo, pedimos cerveja, logo ela apareceu com duas taças enormes, mas em formato de crânio, demos risadas, mas a cerveja estava gelada, uma delícia, chamamos a garçonete e pedimos uma porção de calabresa, ela disse que não tinham, mas traria a especialidade da casa. Pedimos mais cerveja, em pouco tempo chegou a cerveja é uma porção de carne acebolada, deliciosa, mas segundo a fantasia da data, foi servida em uma tigela parecendo os ossos de um tórax humano, em meio a nossa conversa, comentamos o quão bom era este lugar, apesar de termos gostos diferentes, ambos achamos a comida deliciosa, ambos achamos a garçonete linda e ambos concordamos que era muito realista a decoração do lugar. A única coisa que nos incomodava, era que todos no bar volta e meia nos olhavam, logicamente, deduzimos,  por sermos os únicos ali, que não estávamos fantasiados para o Halloween, mas o lugar era tão incrível, que nem nos incomodávamos, era legal ver mulheres vestidas de zumbi, com roupas rasgadas, maquiagem de corpos, cortados e sangrando, umas eram tão boas que a maquiagem parecia mostrar os ossos de verdade. A garçonete nos trouxe uma bebida vermelha, fumegante, perguntei o nome daquilo, ela disse que era sangue flamejante e que era cortesia da casa, realístico e delicioso, parecia mesmo sangue, tinha um sabor incrível, pessoas fantasiadas entravam e saiam o tempo todo, umas até passavam segurando imitações de cabeças ainda sangrando, tudo era tão realista que notamos que já estávamos bebendo além da conta, mas o lugar era agradável demais, pensava em ir embora, mas não queria ir, todos eram tão atenciosos conosco, a garçonete sabia exatamente o que queríamos,  minha caneca esvaziada e antes de pedir ela já vinha com outra, ela nos trouxe uma cerveja preta deliciosa, curioso Felipe perguntou qual era essa cerveja ela ainda em clima de Halloween disse em um tom macabro que era chorume de corpos em decomposição, olhamos um para o outro e caímos na gargalhada, eles deviam produzir a cerveja artesanal para estas datas, no meio do salão apareceu uma mulher loira, linda, com u. Vestido preto e rasgado, parecia ter acabado de sair de uma sessão de espancamento, olhos roxos e inchados, lábios cortados e sangrando, um corte profundo na lateral do corpo que deixavam suas tripas para fora, era incrível está maquiagem, ao entrar alguns a aplaudiram, ela prendeu nossa atenção, quando abriu a boca para cantar era lindo, que voz, que música, era triste, ela parecia sofrer, parecia realmente estarem agonia profunda, mas era lindo demais, a garçonete nos trouxe outra daquela bebida que parecia sangue, degustei sem tirar os olhos da cantora, estava alucinado por este lugar, nunca fui chegado a violência, nem a monstros ou coisa do tipo, mas quando um cara gigante saiu de traz do balcão, e agarrou ela pelos cabelos, arrastou para o fundo dizendo “ chega de cantoria" todos aplaudiram, eu tive que aplaudir, era muito real, que atores incríveis, que lugar fantástico, se aproximou de nós novamente a garçonete com mais cerveja, olhei para Felipe e  ele estava bebendo aquele licor delicioso que deram o nome de chorume, nossa nunca me senti tão bem na vida. 

Mas, algo mudou de repente, olhando para a porta por onde entramos, vi um jovem casal, um rapaz de uns 20 anos com uma menina de uns 18 que parecia minha filha, nossa minha filha, que saudades, não entendi porque senti tanta saudades se tinha deixado ela na faculdade aquela mesma manhã, mas o que me intrigou, foi que olhando para aquele jovem casal eu desejava a morte deles, eles não estavam fantasiados, eles não fazia parte daquele show incrível, mas eu queria vê-los sangrar, a garçonete me trouxe outro daqueles licores de sangue, e eu imaginava o sangue daquela garota descendo pela minha garganta enquanto eu bebia meu licor, que loucura é essa, acho que é hora de ir embora disse para Felipe, ele sorria e dizia que não queria ir, que queria ficar naquele incrível lugar, estranhamente, eu bebi tanto que não conseguia ver para que lado a porta ficava, disse para Felipe que eu iria embora, que se quisesse ficar, ficaria sozinho, rodei pelo salão macabro do bar, mas não achei a sai da, quando perguntei para a garçonete sobre a sai da, ela apenas sorriu e me deu mais uma caneca de crânio com cerveja, voltei até Felipe, disse que estávamos presos ali, ele sorriu, parecia em um transe, chacoalhei ele é nada, ele apenas deu um gole em seu licor de chorume, vi aquele homem gigante do bar me olhando, não era mais um olhar amistoso, olhei para a garçonete e ela me encarou, seus olhos escorriam sangue, sua pele parecia pobre, aquele lugar tão gostoso e agradável começou a cheirar podridão de morte, fiquei desesperado, meu coração acelerado, o homem do bar vindo em minha direção, eu me afastando o máximo que  conseguia, olhei para Felipe seus olhos começaram a escorrer sangue, agora a garçonete vinha em minha direção, sentia o desespero tomando conta do todo meu corpo, quando olhe o para o lado um corredor se abriu na parede, duas mulheres entraram sorrindo e eu nem pensei, corri em direção a elas, eu gritava voltem, voltem, voltem, mas elas não me deram atenção, sentia a garçonete o e cara do bar no meu encalço, e passando pelas mulheres sai na rua.

 Meu coração batia acelerado, a noite ainda gélida me mostrava que apesar de parecer que passei a noite toda no bar, fiquei apenas poucas horas, aquele lugar maluco, aquelas pessoas malucas, eu precisava buscar ajuda para Felipe, mas ao correr derramou aquela bebida sangrenta em minha roupa, era muito realista e eu não poderia procurar a polícia sujo de sangue, não saberia como explicar que era só uma bebida, decidi ir em casa e trocar de roupa, foi quando percebi que realmente estava louco, minha casa estava pintada de uma  cor diferente, um carro estranho na garagem, mas eu tinha pressa para ajudar meu amigo, peguei minhas chaves e tentei abrir a porta, não consegui, alguém  havia trocado a fechadura, apertei a companhia desesperadamente, uma moça de uns 30 anos apareceu, não sei quem é ela, mas era muito parecida com minha filha, ela abriu a porta, e disse em um tom espantado:- Pai?

Minha mulher apareceu ao lado dela, com uma aparência espantada e parecendo mais velha disse: - Você some por 5 anos e aparece aqui assim sujo de sangue?